10 de jul. de 2011




Vozes do aquém do artista, escritor, poeta e filósofo Nelson d'Paula me chega como um chamado poético à reflexão existencial, uma mescla de filosofia e poesia surrealista se reúnem nos entre-espaços de suas páginas, na epidermica folha de papel, no texto delineado quase como tatuagem tipográfica, uma maquiagem reveladora, em algumas de suas páginas. Desde o 'Lamento dos pré fantasmas' - primeira comunicação- até a 'Lacraia tem alma' é todo um despejar-se sobre a condição humana e da eterna devoração. Pré fantasmas na própria condição de condenação a passagem dos sopros e furacões divinos, como Nelson d'Paula afirma em suas primeiras linhas, seres cambaleantes e condenados mesmos antes do nascimento, é o que somos todos. Vozes do aquém, vozes dos espíritos que nos sopram, no instante, palavras ao grande reenvio, a origem, a unidade, a essa eterna unidade que nos debatemos e nos rebelamos como poeira. Vozes do aquém transparece ainda reminiscências do surrealimo entre mesclado com a mesma filosofia contida em Collage: um testemmunho fenomenológico, uma magnífica reflexão sobre a collage e criação.
Vozes do aquém é um chamado ás leis sociais da vida, a convivência pois, o além é comunista, com-Uno-mista. "Todas as almas são iguais, é falsa a idéia de uma uma hierarquia celestial, os lugares das nuvens não são reservados, as forças divinas não foram feitas para lotear pedaços de céu". O comum não é a capacidade de repartir a produção, mas capacidade de doação. Nelson d'Paula, compartilha com Leibnitz a visão das monadas, "o infinito é feito de infinitos pontos finitos, cacos muito pequenos montam os arco-íris, que são pontes para o alto".

Vozes do aquém , é uma conversa, uma comunicação eletríficante e dignificante que meche com as orelhas, abala o ouvido, pois traduz o eterno debater-se do homem, o criador e criatura, o drama de seus pedidos, a recusa à um destino fixo de cartas marcadas. A cada virada de página, ao esticar os dedos o leitor depara-se quase como uma oração, uma sentença incondicional da existência. "Creio no humano, pois é a casa da Alma, muito além do mero arcabouço, mas elemento constituinte e integrador". Vozes do aquém é collage de entendimento e acontecimento.  O uno é a cola total, a grande collage, a colisão, o grande choque das infinitas diferenças, das infinitas particularidades, é o lugar sem lugar, a cola sem cola que ata tudo. Re-une. O colar de infinitas contas que se retorce. Mas não basta o humano, é justamente o sentido da doação, do amor que junta. Todas esses pensares que também compartilho com Nelson nessa escuta, mostram a responsabilidade da existência.


fernando fuão. 




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