9 de abr. de 2011

AS BORDAS DO TEMPO
Fernando Fuão
Esse ensaio sobre Antonio Negri e a collage surge de uma experiência pessoal ao ler Kairòs, Alma Vênus, Multitudo, numa praia desolada#. À medida que lia, percebia o quanto o conceito de collage, como havia apresentado em “A collage como trajetória amorosa” e “Arquitectura como Collage”#, estava presente no pensamento de Negri em sua Alma Vênus.
Assim, esse ensaio lança-se além das reflexões sobre as nove lições de Negri, buscando atingir aquilo que eu ainda não havia tratado com a devida intensidade na collage: os contornos, as bordas das figuras, as bordas da matéria, as bordas do ser, as bordas das multidões...
Collage, aqui, não é uma reflexão sobre o procedimento ou a técnica, mas sim um questionamento sobre os limites da representação, sobre a organização dos corpos no espaço, na vida. Sobre essas imprecisões, por assim dizer, a collage se delineia como os novos contornos do ser.
Portanto, em meio às “nove lições ensinadas a mim mesmo” de Negri, misturam-se também reflexões, muito pessoais, de uma experiência em torno aos limites da natureza, das relações da matéria presentes na estreita e extensa faixa da beira do mar do Rio Grande do Sul, Brasil. É o encontro dessas forças da vida, como devaneios poéticos, que vem iluminar as questões que se seguem.
A argumentação desse texto está entrelaçada – como um estranho casamento – pelas passagens de Negri de “Kairòs, Alma Vênus, Multitudo” e as passagens de “A Collage como trajetória amorosa”; ambas costuram-se pelos contornos das figuras, pelos encontros, pela pobreza e excessos, pelo acaso e, sobretudo, pelo amor.
hermenegildo-oto. collage . fernando fuão 2011