27 de mai. de 2009



Reliefs from Vila Chocolatão. Giovana Santini
NARRATIVA DA COLLAGE
Neide Costa Brandão

Há sempre um início para tudo. E uma finalidade, uma finitude.
Cada ato é começo e fim, intenção e tentação, insatisfação e desafio, movimento e repetição.
O encontro não é o início, mas um ato. Tão rico de possibilidades que, sozinho, é uma caixa de pandora. Aberta, o inusitado, o drama, a comédia, a leveza, o arrebatamento, enfim.... Tudo pede para acontecer e acontece, ainda que nós, fazedores, não tenhamos planejado nada.
Os encontros se fazem a nossa revelia : isso é o apaixonante.
A narrativa da collage é a narrativa da nossa vida.
Nossas collages narram um momento do nosso sentir, e como nos revelamos (ou nos ocultamos).
A collage poderia ser traduzida em narrativa literária, desde o momento do desejo da procura pelas imagens ou objetos, abrindo capítulos acerca das escolhas, dos refugos e das sobras, esses pés-de-página que explicam a seleção .E aí vamos nos entregando em imagens rasgadas, recortadas, amassadas,picadas,furadas,e o olho caça a união perfeita,o significado mais exato,a exaltação da dúvida,o esconder,o revelar.
Sempre queremos contar uma estória,e precisamos de ouvintes que ouçam e compreendam.É como nós, humanos, encontramos o outro. Através do relato.
Surpreende-me a collage quanto mais eu a experimento.Os caminhos são tantos e tão ricos de possibilidades quanto são os dias.

Outubro de 2007.

22 de mai. de 2009




Gladys Neves. Collage. De Boullée a Gaudi. 2003

18 de mai. de 2009

NELSON DE PAULA. collagens epidérmicas
Fernando Freitas Fuão

O trabalho de Nelson de Paula escapa um pouco às formas compositivas do resto do pessoal do Grupo Surrealista de são Paulo, que gira em torno de SergioLima.
O trabalho do Nelson não exclui a temática do corpo feminino como objeto de representação.
O trabalho de Nelson de Paula, se pode ver sobre várias óticas. Uma delas é a questão da própria representatividade sobre o suporte. Nelson acredita, como já expôs em seus escritos, que as superfícies são peles. As fotografias são peles e o grafismo que trabalha em cima das imagens se constitui quase como uma tatuagem. Ele explica mais ou menos assim, que a fotografia, ou o papel da revista para que se possa trabalhar tem que ser perfurado, arranhado, para que a tinta possa ser penetrada, mas não em excesso que venha a borrar. Tal qual um trabalho de tatuagem.
Nelson explora este grafismo como se fosse algo análogo também ao grafismo das veias da madeira, que gravam o registro de uma vivência. E algumas de suas collages, e o grafismo feito em cima das imagens utilizadas, que ele borra propositalmente, se parecem aos veios de madeira.
Ele sempre chama a atençaõ em seu trabalho para a questão da superficialidade do papel, da pele. E, para expressar essa idéia, procura apagar a leitura da tridimensionalidade, mediante a utilização de manchas escuras, manchas claras, ou simplesmente texturas feitas com canetas nanquim. Coloca as imagens num mesmo plano: achatamento.
Nelson coloca em seu trabalho, especialmente na exposição realizada em (...), a questão do original e da cópia. Quero dizer, por exemplo, que neste conjunto, os originais que criaram as reproduçõs em P&B foram ampliando no sentido de reprodução de uma nova obra, onde o original deixa de fazer sentido. Em outras palavras, “um original se transforma em mil originais”.
Muito do trabalho do Nelson se relaciona com a poesia, assim como o do Floriano e o do Sérgio. Ao se ler os escritos de Nelson compreende-se a relação direta com sua obra plástica. A linguagem utilizada por ele tem parentesco com a da história em quadrinhos e os aspectos da linguagem publicitária de algumas delas o tema do grafismo é obcessivo.


Banheiro do barraco. Vila chocolatão Porto Alegre. Collage. Giovana Santini

7 de mai. de 2009

ENCOSTAR SOLIDÕES

Ao reunir todas estas peças dispersas
Capturadas na linha do tempo,
Ordenadas e coladas
Convertemos num legado sem fronteiras, sem bordas,
constituíndo um modo de espacialização.
Tudo ficaria “congelado”,
Se não fosse esta seta que lanço com esta pesquisa
Apoiada em “mil platôs”,
Principalmente quando a visão está turva,
sempre “se aprochega” alguém
Para nos dar energia e
refazer a nossa tranqüilidade e autoconfiança.
Pois “que é a collage, senão encostar solidões?”

Gladys Neves

4 de mai. de 2009


O Porto de Rio Grande. collage. fernando fuão.1996
A COLA I
Fernando fuão

A cola é o elemento que realiza o trabalho da collage. A própria atividade de coller.
A palavra cola provém do grego kólla e do latim colla. No Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, é definida como substância ou preparado glutinoso para fazer aderir papel, madeira e outros materiais; goma: cola de peixe; cola de amido. Dela se associam palavras, tais como: colaborar, coligir (reunir o que está esparso, disperso). Assim como, o sufixo, ou elemento compositivo (cola, do latim colere), designa o que cultiva, o que habita (aqüícola, vinícola). Ela também comporta ainda o sentido de cauda, rastro, encalço. -
Mas, quando se passa da palavra ao verbo, da cola ao colar, suas contas se estendem.
Colar: unir, pegar, grudar, juntar, copiar clandestinamente em exames, ligar, ajustar, amoldar-se.
Colar: ornato ou insígnia para o pescoço.
Entretanto seria mais interessante remeter a origem da palavra collage não a cola, mas sim ao sentido de collegare, colligare que em latim significa colegas, aqueles que andam juntos, aquelas figuras que andam juntas.
De certa forma o significado da cola aproxima-se também ao conceito de símbolo. Simbolum: unir, congregar, conectar o acima-abaixo, ligar todas as coisas, A linguagem simbólica permite a circulação de um nível a outro, integrando todos estes níveis, mas sem fundi-los. Etimologicamente símbolo do grego (syn e tobalein) significa, também, ir juntos, aventurar-se juntos tal qual o sentido da collage.